quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nem sombra do que eu fui...


Recordo-me de, certa vez, em treino qualquer na academia, de estar sentada no tatame com os colegas de treino e o mestre. Como era de praxe em todos os nossos treinos, antes de iniciar a prática, sempre conversávamos algo relacionado a teoria e só ao final dessa conversa passávamos para a prática e, em seguida, vez por outra, para a meditação, finalizando os treinos deixando o corpo e o espírito em harmonia. O treino em questão tinha tudo para ser apenas mais um entre tantos, mas uma simples pergunta minha modificou todo o percurso do mesmo.

Estavam acontecendo muitas situações inesperadas em minha vida naquele momento e eu comecei a perceber que as minhas reações estavam sendo totalmente diferentes das que eu era acostumada a ter antes de conhecer o Caminho e isso me deixava feliz, mas também me deixava meio confusa e assustada. Diante disso, perguntei ao mestre: "Sensei, eu tenho percebido algumas mudanças muito radicais na minha personalidade e gostaria de saber o que é isso? O que é isso que, aos poucos, vai transformando nossos sentimentos, pensamentos, percepções de vida e, até mesmo, caráter de quem pratica sem que o praticante perceba de imediato essa transformação? O que é isso que me deixa tão fortalecida e mais tranquila comigo mesma, tanto que eu já não me sinto tão dependente (emocionalmente) das outras pessoas? O que é isso que me ajuda a não pensar mais só nos outros, mas, principalmente, em mim e nos meus objetivos?" A resposta dele, como de costume, foi inicialmente breve, mas carregada de significado para mim: "Isto é o Karatê que você pratica!"

Obviamente que, no início, a resposta pareceu-me um tanto vazia e grosseira, mas ao longo do treino ela foi formando os seus significados em minha mente. Ao final do treino, após a meditação e antes do cumprimento final, percebi que a resposta tinha sentido. A fraqueza está em mim, pois sou humana e dotada de erros e falhas nas minhas escolhas e isso é o que me faz cair, mas aprendi no Karatê que eu pratico que enquanto há vida, há oportunidade de arrependimento e enquanto houver arrependimento, haverá uma chance de crescer, amadurecer e evoluir. E quando falo de evolução estou me referindo ao ser humano como um todo. Percebo com muita satisfação em meu coração que quantas vezes eu cair serei, mesmo assim, capaz de levantar; mesmo com muito medo serei capaz de seguir; as escolhas erradas que eu tive, não posso consertar, mas, com certeza, não repetirei nenhuma delas; as dores que eu sentir fazem parte do meu crescimento como ser humano e que todas as vezes que eu voltar às origens e me arrepender de algo é porque estou viva e usando o que eu aprendo diariamente nos meus treinos de Karatê. Isso é o Karatê que eu pratico e que hoje eu sei que não sou e nunca mais serei nem sombra do que eu fui...

OSS...!